20/02/2011

“A Teologia me fez mal”

Já ouvi muitas vezes, em círculos cristãos, alguém insinuar ou dizer mesmo com todas as letras que “teologia faz mal ou a teologia me fez mal…” Mas, de qual teologia estamos falando? Se for da teologia que declara a inerrância e suficiência da Bíblia e o amor por sua verdade; enfatiza a realidade da queda humana e a soberania de Deus na Salvação; a importância da obra da Cruz de Cristo, e é rinitariana e teocêntrica, então não é apenas de um compêndio na prateleira de uma biblioteca, ou de um curso de faculdade, que estamos falando, mas da teologia que “refere-se ao estudo, ao conhecimento, à comunicação e ao ensino de Deus, e à aprendizagem sobre Deus.” (John Frame) E se “fazer mal” é derrotar o antropocentrismo, então graças a Deus, a teologia faz mal mesmo. Fez mal a mim, e por esse parâmetro faz e fará mal a muita gente.

Não somos o centro do universo e por isso a teologia nos causa dor e desconforto. A teologia, entre outras coisas, trata da questão da nossa relação com o Criador, e não há substitutos para ela (Tozer). Nosso menosprezo pela teologia, só reforça a idéia de que continuamos nos escondendo de Deus, constrangidos por nossa condição pós-queda (Gn. 3.8). E, nos escondemos muitas vezes, em nome de uma suposta espiritualidade (sem conhecimento); na presunção de uma eleição (sem frutos); escondemo-nos numa adoração (sem devoção), e ainda, numa floresta de pecados tentando fingir que Deus não está presente.

Na verdade, a idéia de que teologia faz mal, está fortemente enraizada, no mesmo conceito distorcido de que “a letra mata”. É o mesmo antiintelectualismo de sempre, que ganhou força, segundo Nancy Pearcey (Verdade Absoluta, CPAD, Rio de Janeiro, 2006), na origem do evangelicalismo do século XIX. O pragmatismo que estava no nascedouro do movimento evangelical levou a uma abordagem hostil em relação à teologia que persiste em nossos dias, como descreve Mcgrath:

A natureza fortemente pragmática do movimento (evangelical), levou a uma ênfase no crescimento da igreja, pregação de sentir-se bem e estilos de ministério informados em grande parte pela psicologia secular. O papel da teologia clássica sofreu erosão séria, com seminários evangélicos deixando de dar-lhe o lugar de honra que antes lhe fora universalmente atribuído. A teologia não é mais vista como integral para manter e nutrir a identidade cristã no munddo, nem como recurso seminal em forjar novas abordagens para o ministério. (McGRATH, Alister. Paixão Pela Verdade. Shedd Publicações, São Paulo, 2007)

É importante salientar que a teologia nutre a genuína identidade cristã em nós. Portanto, se faz mal, o faz às práticas que distorcem o ensino cristão, como podemos ver nos exemplos que seguem:
Faz mal ao homem caído, que recusa aceitar a triste realidade do seu estado. Prefere pensar que tem algo de bom, ou que tem capacidade de escolher o bem por conta própria. A este com certeza a teologia fará mal, pois vai lhe dizer, sem clichê ou brandura, és “um desgraçado, pobre cego e nu” (Ap.3.17); vai mostrar a profundidade da queda em todas as áreas do seu miserável ser, e deixar-lhe ciente da sua total incapacidade de se reerguer.

Faz mal ao orgulhoso, que tem fortes dores de cabeça ao pensar que a salvação não depende dele, afinal, em seu conceito a graça de Deus “precisa” da sua boa vontade e do seu esforço também. A este a teologia vai dizer que “tudo provem de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo” (2Co.5.18), não deixando qualquer espaço para vangloriar-se na presença de Deus.

Faz mal ao soberbo o suficiente para imaginar que escolheu a Deus, e foi soberano nesta escolha, satisfazendo um deus que busca desesperadamente a aceitação dos homens. A este a teologia vai dizer sem rodeios que foi o Senhor que “nos escolheu antes da fundação do mundo” (Ef.1.4; Jo.15.16)

Faz mal ao arrogante. Há uma tendência atual, de colocar o homem como centro e medida de todas as coisas. Há um culto à auto-estima sendo prestado em lugar de culto ao Deus verdadeiro. Temos líderes enaltecendo a arrogância e difamando a humildade. Já presenciei reuniões em que o culto é interrompido e todos ficam de pé para a entrada triunfal do líder e sua comitiva, até mesmo no momento em que a Palavra esta sendo pregada. E ninguém questiona essa aberração! Não tem como a boa e salutar teologia não fazer mal num ambiente como esse. A glória que só pertence a Deus está sendo usurpada!

Ninguém pode estudar a Bíblia sem dizer que está estudando teologia, ninguém pode estudar teologia sem estudar a Bíblia. Claro que más atitudes podem persistir – e persistem – na vida de qualquer estudante de teologia, tenha ele motivos nobres ou não. Mas isso acontece por causa da queda e não da teologia. Parafraseando Michael Horton (Creio, Cultura Cristã, São Paulo, 2005), dizer que teologia faz mal é o mesmo que dizer que estudar a Biblia faz mal, ou conhecer a Deus é ruim.

O segredo da vida é teológico e a chave para o céu também. Aprendemos com dificuldade, esquecemos facilmente e sofremos muitas distrações. Devemos, portanto, decidir com firmeza estudar teologia. Devemos pregá-la do púlpito, cantá-la em nossos hinos, ensiná-la aos filhos e fazer dela tema de conversa quando nos reunimos com os amigos cristãos (TOZER, A.W., O melhor de A.W.Tozer, Ed Mundo Cristão, São Paulo, 1994)

Àquele que nos escolheu antes da fundação do mundo e nos guia pelo caminho da verdade, em quem está toda sabedoria e todo conhecimento, seja a glória pelo século dos séculos.

Autor: Franko-Blogdopregador

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